Governança e Família EmpresáriaXestaques

A profissionalização da empresa familiar

profissionalização da empresa familiar

Quando se fala em profissionalizar uma empresa, no caso familiar, é comum pensar em afastar a família da gestão. Essa visão leva a entender que os membros familiares não podem ser enxergados como profissionais. No entanto, várias empresas familiares depositam sua profissionalização contando justamente com os herdeiros e demais membros da família, que passam por processos de desenvolvimento e preparação para assumir os cargos de gerenciamento da empresa.

O profissionalismo não tem a ver com categorias familiares ou não familiares, mas sim com atitudes e comportamentos das pessoas e cultura da empresa.

Estudos sobre as estruturas gerenciais das empresas familiares feitos em diversos países concluíram que a maioria delas é constituída por “profissionais familiares e não familiares”, que convivem de forma harmônica e respeitosa.

O processo de profissionalização deve ocorrer tanto na gestão, quanto no controle da propriedade, já que é necessário que todos tenham preparo e competência para ocupar posições de administração e tomada de decisões.

A falta de profissionalização de negócios familiares faz com que esse tipo de organização não sobreviva às gerações e acaba por prejudicar a longevidade. Essa estruturação da empresa passa por diversas etapas e processos, que influenciam na cultura, valores, acordos e demais aspectos da governança.

Pode-se dizer, portanto, que quando proprietários familiares e líderes empresariais são bons administradores de suas empresas e incentivam altos níveis de desempenho e ética em suas atividades, consequentemente, a probabilidade de uma gestão profissional é maior.

 

Profissionalização da gestão de uma empresa familiar

 

Profissionalizar significa ter um pensamento estratégico, criar metas, processos, métricas e indicadores que tornem o negócio mais formal e, por consequência, mais profissional.

O processo deve levar em conta alguns conceitos básicos de governança familiar, que devem estar no entendimento dos líderes e membros familiares envolvidos na gestão da empresa.

Reconhecer que toda empresa familiar possui três dimensões (família, propriedade e negócio) é fundamental, uma vez que os interesses dos membros de cada uma destas dimensões podem ser divergentes.

A definição dos valores do negócio e da família também deve estar claro e presente entre as gerações, para que a organização perpetue em conformidade com os preceitos já estabelecidos pelo fundador e preservação dos interesses da família. A falta de compatibilidade desses valores pode se tornar um problema, gerando conflitos não só na relação entre membros de uma mesma família, mas também na relação entre profissionais não familiares. O Conselho de Família tende a ser o grande pilar desses valores, encarregando-se de defendê-los e perpetuá-los entre as gerações.

Após um amplo entendimento desses temas, a profissionalização passa também pelo estabelecimento de regras e diretrizes que norteiam toda a administração. A definição das competências necessárias para o corpo funcional da empresa também é necessária para a profissionalização, já que capital humano é o maior diferencial competitivo de uma organização.

O desenvolvimento também ganha grande destaque, já que esse é um ponto chave para o crescimento de qualquer negócio. Investir em políticas de desenvolvimento, formação de herdeiros e preparo de profissionais é essencial para a expansão.

Em estudo realizado por Renato Bernhoeft com empresas familiares brasileiras que ultrapassaram um século de existência sob o comando do grupo familiar fundador, é apontado que um ponto em comum no sucesso das organizações é a importância atribuída ao preparo dos herdeiros, prioritariamente, para o papel de acionistas, com atenção para a preservação do legado.

A importância da governança corporativa, no que se refere ao conselho de administração, deve ser dada em mesma ênfase ao preparo dos detentores do capital, que podem ocupar posições no conselho societário, de controle, ou também no conselho de família.

Esse processo não é simples e deve feito dentro da estruturação da governança familiar, que analisa cada caso com suas particularidades e que faz com que o negócio deixe de ser a “empresa do dono”, para se tornar efetivamente uma empresa familiar profissionalizada.