Em Portugal, assim como no Brasil, a grande maioria das empresas são familiares, desde pequenos empreendimentos, até grandes organizações.
Sabemos da importância da gestão da sucessão e da governança familiar nesses casos e, para isso, a formação, desenvolvimento de herdeiros, atualização e aprendizado é fundamental.
Cursos de formação nessa área são encontrados no mundo inteiro. Em Portugal, na cidade do Porto, participamos de uma aula da pós graduação em Direito e Família Empresária, da Universidade Católica do Porto, que já está em sua segunda edição e vai de fevereiro até maio de 2020.
O curso tem por objetivo conhecer as especificidades das empresas familiares e das famílias empresárias; falar sobre diferentes modelos de governança; identificar práticas adequadas a esse cenário e ao processo de sucessão e; compreender a prevenção dos diferentes conflitos desse tipo de organização. Os membros da classe são membros de famílias empresárias, contendo herdeiros e fundadores, além de advogados e juristas que trabalham nessa área.
O professor e consultor de famílias empresárias português António Nogueira da Costa apresentou na aula da disciplina de Introdução ao Governo da Família Empresária/ Empresa Familiar um expositivo sobre algumas das armadilhas e dificuldades encontradas na construção de uma empresa familiar, além de algumas boas práticas e desafios desse mercado.
Segundo o próprio professor, o que mais enriquece os encontros são as trocas de experiência e compartilhamento de aprendizado feito entre os alunos.
Alguns pontos levantados em classe chamam a atenção. A empresa familiar, por ser galgada em tradição, muitas vezes encontra-se atrasada com relação à inovação, avanço do mercado e, até mesmo, sucessão. Uma das dificuldades encontradas nas famílias na hora da sucessão, segundo relatos, é o conflito entre a parte jurídica e a mentalidade da família. A sucessão tardia pode ser prejudicial, nesse sentido, já que a passagem do fundador para a segunda geração costuma ser a mais complexa. Além disso, a empresa deve ser inovadora, principalmente nos dias de hoje, e deve atuar em um mercado continuamente competitivo para conseguir a longevidade.
Outro ponto levantado foi a ainda existente diferença entre gêneros. Segundo falas de alunas, ainda existe em Portugal a distinção entre sucessores homens e mulheres, sendo que os homens possuem mais direitos nos acordos das empresas e tem maior facilidade no processo de sucessão e governança.
Por ser uma disciplina introdutória, vimos muitos dos conceitos já conhecidos em nossos conteúdos, mas sempre por uma perspectiva de mercado diferente, já que estamos em um país com cultura e economia distintas – Portugal.
António Nogueira da Costa faz parte da coordenação executiva do curso de pós-graduação. Ele é sócio e CEO da EF Consulting – empresa de consultoria especializada em famílias empresárias, que atua em Portugal desde 2004.
Com muita experiência na área, o consultor nos conta que um dos principais desafios das empresas familiares portuguesas é, justamente, a sucessão. Conforme foi falado em sua aula, muitas das empresas não perpetuam em função do atraso na passagem para as próximas gerações, além da falta de gestão de sucessão.
Quanto aos herdeiros, é investido em profissionalização e desenvolvimento. Outro ponto relevante é que a maioria dos jovens membros são estimulados a trabalhar em outras empresas com o fim de conhecer a realidade do mercado de trabalho antes de assumir cargos dentro das empresas da família.
Outra ressalva interessante do cenário português é que, segundo António, o termo Família Empresária ainda possui um estigma negativo muito forte no país. Isso ocorre porque na recente ditadura portuguesa, que durou de 1933 até 1974, muitas das propriedades de famílias foram tomadas pelo Estado, fazendo com que muitas delas perdessem seus patrimônios. Por esse motivo, ainda é recente o processo de reconstrução e reconhecimento das famílias como empresárias em Portugal.
Conhecer percepções e realidades diferentes do mercado de empresas familiares é extremamente enriquecedor para a formação e aprendizado, seja de membros das famílias, consultores ou demais profissionais envolvidos no processo.
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