Em um momento de “caos universal”, a empresa familiar e, em especial, os seus líderes estão colocados numa envolvente de incerteza típica de ambientes de guerra: a necessidade de tomar decisões é imperativa, o suporte racional é reduzido e o tempo urge.
Os gestores estão sob um clima de enorme tensão, pelo que todo o apoio válido, sendo importante para auxiliar nas suas tomadas de posição e para unir e direcionar os esforços para as vias que sejam identificadas, dando suporte à continuidade da empresa.
A empresa familiar, ao ser um elemento do ecossistema que agrega de forma muito próxima os seus acionistas e a família empresária, tem condições privilegiadas para criar uma envolvente de coesão
que lhe permita enfrentar e ultrapassar, com vantagens comparativas e de forma mais assertiva, o astronómico desafio dos próximos tempos.
Cada membro da família empresária terá as suas próprias preocupações e, enquanto elemento integrante do ecossistema referido, desejará conhecer o essencial do que está a ocorrer e do que está por vir, naturalmente, observando de que forma será afetado e poderá auxiliar na sobrevivência deste triângulo virtuoso constituído pela empresa, os sócios e a sua própria família.
A situação reforça o relevante papel de uma comunicação fluída,
sintética e simples entre todos os elementos do ecossistema. Esta
comunicação bidirecional deve ser uma iniciativa dos líderes da empresa e suportada nos órgãos existentes – caso de famílias que possuem estruturas como a Assembleia e o Conselho de Família. De outra forma, a comunicação também pode ser assumida de forma direta e personalizada – por email, telefone, meios telemáticos ou mesmo presencialmente (a evitar por razões óbvias do afastamento social e temporal).
Salienta-se que o grande objetivo é passar a informação essencial e verídica, para manter as pessoas atualizadas, mitigar preocupações, eliminar falsas suposições e potenciais influências desnecessárias ou nefastas, geradoras de tensões evitáveis.
É necessário, também, consciencializar os membros da família empresária não envolvidos diretamente na empresa de que é tão importante disponibilizarem o seu apoio, quanto evitarem contatar e ocupar desnecessariamente o tempo daqueles que neste momento estão a dar o seu melhor para gerir a empresa e assegurar a sua perenidade.
Neste contexto e de uma forma agrupada pelos grupos de interesse (empresa, proprietários e família) identificam-se alguns elementos e ações que permitem uma reflexão e potencial utilização na comunicação e relacionamento no ecossistema da empresa familiar.
Empresa:
- As principais ações a serem desenvolvidas: Alterações ao funcionamento normal; Alterações nas relações com os clientes, fornecedores e bancos e; Relação com os Empregados.
- As principais ameaças: Limitações aplicadas ao setor, atuação dos concorrentes e etc.
- As principais oportunidades: Elementos ou espaços libertados, novas áreas de atuação e etc.
- Perspetivas Financeiras: Expectativas de variação no volume de negócios; Expectativas de necessidades de financiamento .
Proprietários/ Acionistas:
- Alteração na política de dividendos.
- Necessidades de financiamento da empresa: Empréstimos ou suprimentos; Aumento de capital.
- Potenciais Oportunidades: Cooperações, compra, venda, fusões e etc.
Família Empresária:
- O estado geral das pessoas a nível de saúde física e emocional: Principais preocupações atuais ou futuras; Potenciais evoluções ou tensões.
- As necessidades específicas de familiares.
- As disponibilidades dos familiares: Para apoio a outros familiares; Para apoio à empresa.
- A geração mais nova: Percepção dos contextos – externo, da empresa e da família; Impacto e compromisso para colaborar, assumir limitações e sacrifícios.
Texto escrito por António Nogueira da Costa – CEO da efconsulting®– empresa que desenvolve trabalhos especializados em empresas familiares na região de Portugal. Autor de livros da área e professor de cursos de formação para famílias empresárias.