O caminho de crescimento de uma empresa é longo, intenso e sujeito a diversos percalços até se atingir um estágio satisfatório. Cada vez mais, as empresas precisam ser resilientes e estar abertas a receber o novo, o desconhecido e os desafios.
A Governança Corporativa é entendida como um sistema de processos e políticas regulamentadas pelo qual uma empresa é dirigida, administrada ou controlada, que profissionaliza e auxilia nos desafios que a modernidade impõe.
Boas práticas de governança criam relacionamentos saudáveis entre conselho de administração, investidores, gestores, funcionários e, no caso da empresa familiar, entre os membros da família.
A implantação desse sistema serve, justamente, para conseguir criar uma separação entre a ideia de propriedade, de família e de gestão. Podemos dizer, portanto, que a implementação de diretrizes de GC fortalece a organização.
Para que isso aconteça, é necessário que essa estrutura também se adapte ao novo e consiga enxergar o futuro e suas oportunidades. A inovação precisa estar também presente nas práticas de governança corporativa, assim como deve estar na cultura da empresa como um todo.
Inovação na Governança Corporativa: Práticas em Startups & Scale-ups
O IBGC, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, organizou, no ano passado, um documento que aborda as particularidades de governança nas quatro fases de crescimento de negócios das startups e scale-ups, de modo a apresentar um modelo de negócio escalável, inovador e com alto potencial de crescimento.
Com base nesse documento, o Instituto ainda apresentou um estudo exploratório com objetivo de mapear as práticas adotadas por essas startups e scale-ups e as percepções sobre governança corporativa presentes nessas organizações, além de identificar quais as lacunas e desafios desse ecossistema inovador.
Partindo da análise desses materiais desenvolvidos pelo IBGC, utilizando o exemplo das startups, podemos observar algumas abordagens da inovação na governança corporativa.
Considera-se, portanto, que startup é uma organização escalável, de alto potencial econômico e inovadora, que faz parte de um ecossistema já bem estruturado no Brasil. As startups capazes de superar os primeiros obstáculos, com um modelo de negócios escalável, inovador e de crescimento acelerado, tornam-se scale-ups, ou seja, assumem posição de destaque.
Esses são negócios com potencial para trazer inovações ao mercado, mas que, muitas vezes, enfrentam dificuldades de crescimento por desalinhamento entre os sócios sobre temas estratégicos. A governança corporativa, portanto, passa a ser o maior desafio enfrentado pelos empreendedores.
Em modelos mais tradicionais, é comum entender que o sistema da GC só deveria estar presente nas empresas de grande porte, uma vez que inclui o relacionamento entre órgãos de fiscalização e controle e as interações do conselho de administração e demais órgãos que costumam estar presentes em empresas já muito bem posicionadas no mercado.
No entanto, atualmente, a governança tende a auxiliar já nos primeiros momentos de uma organização, como é o caso das startups. Considera-se que o sistema está baseado em quatro princípios básicos: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa. Esses princípios devem ser observados desde o surgimento da startup, mesmo que ela vá desenvolvendo a sua governança paulatinamente.
Nesse sentido, podemos observar que a implantação da GC pode ocorrer aos poucos e sofisticar-se ao longo da jornada. Cada fase de crescimento representa um momento para a adoção ou o aprimoramento de determinadas práticas e é importante que os responsáveis pelo processo estejam ligados aos movimentos de inovação que a atualidade vem propondo de maneira rápida e intensa, a fim de aplicá-los de maneira efetiva na governança da organização.
A edição do IBGC Segmentos apresentou as características de governança nas quatro fases de crescimento de um negócio: ideação, validação, tração e escala − esses dois últimos considerados os estágios de transição de uma startup em scale-up.
Fonte: Governança Corporativa em Startups e Scale-ups: Práticas e Percepções / Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. – São Paulo, SP :IBGC, 2019.
Foi considerado que cada fase tem as suas peculiaridades, prioridades ou premissas e a governança deve variar de acordo com o momento e a fase de desenvolvimento da empresa. Em cada uma dessas fases espera-se que a governança avance, levando em conta quatro pilares: estratégia & sociedade, pessoas & recursos, tecnologia & propriedade intelectual e processos & accountability.
Com esse estudo foi possível perceber algumas características de uma GC atual, com modelos que podem ser implementados por fundadores de startups, seus sócios, investidores e demais empresários. Ressalta-se que é importante que as práticas de governança estejam presentes desde o momento em que o negócio ainda é uma ideia e devem fazer parte da cultura dos empreendedores, sempre sendo reavaliadas e inovadas conforme o momento atual da empresa e do contexto global.
Mesmo assim, ainda há resistência dos empresários com relação ao conhecimento das práticas de governança corporativa. A pesquisa, também realizada pelo IBGC, mostra que os respondentes reconhecem a importância da governança como um fator relevante para atingir seus objetivos, atribuindo a esse aspecto nota média de 9, em uma escala de 0 a 10. Ao mesmo tempo, atribuem nota média de 6,2 em relação ao conhecimento sobre o tema.
O estudo mostra que o que os empreendedores buscam quando recorrem às práticas de GC é, sobretudo, crescimento. Mas, essa falta de conhecimento sobre o tema, em relação a sua importância para os planos futuros, sugere boas oportunidades de aprendizado e desenvolvimento para esse público.
Mapeando algumas boas práticas de uma GC inovadora, com base nas startups, o estudo aponta: Formalização de contratos com os clientes; Implantação de controles internos para garantir informações precisas; Formalização de acordo de sócios; Formalização da relação com mentores/advisors e; Implementação de conselho consultivo.
Segundo o documento do IBGC, não existe receita pronta para a implantação da governança, já que cada empresa deve adotar as práticas coerentes com o seu estágio da evolução, o seu mercado e os seus stakeholders. Mas as organizações que incorporam os princípios desse sistema desde os seus estágios iniciais estarão, potencialmente, mais bem preparadas para atingirem os seus planos e estabelecer boas relações em um mercado cada vez mais conectado.