Em um grupo, independente do contexto, existe uma infinidade de expectativas, objetivos, olhares e ideias coletivas e individuais. Em famílias de diferentes classes sociais criam-se expectativas quanto às multipossibilidades e ao direcionamento da carreira das novas gerações. Pais médicos imaginam seus filhos médicos, advogados sonham com seus filhos advogando e assim por diante. Mas quando os pais construíram mais do que uma carreira – uma empresa – isso passa a ser ainda mais intenso.
Nascer em uma família geradora de empregos e de riqueza pode ser sorte grande. Filhos e netos de empresários, de maneira geral, colhem os frutos de viver com conforto financeiro, acesso a boa educação, boas condições de saúde e a possibilidade de conhecer o mundo. Em contrapartida, muitas vezes se cobra da nova geração – direta ou indiretamente – que se dediquem à empresa da família da mesma maneira que a geração fundadora se dedicou e que contribuam com a empresa com a formação que lhes foi proporcionada. Observa-se dentro da empresa familiar, neste contexto, diversas oportunidades para os filhos e netos: seja como estágio, cargo executivo ou nos órgãos de governança. Outras vezes o grupo familiar opta justamente pelo contrário, pela proibição que herdeiros e seus cônjuges atuem na empresa da família.
Interessante, pensando em famílias empreendedoras, é ter consciência das multipossibilidades que seus negócios, suas habilidades empreendedoras, sua networking e sua riqueza podem abrir para a família e para os membros familiares. Refletir sobre o legado a ser transferido, sobre os objetivos e os valores da família é um exercício muito interessante que faz com o que o os indivíduos consigam perceber o que é coletivo (comum) e, com isso, despertar um senso de pertencimento. No momento que a família tem um plano para si, e um propósito para seu patrimônio, fica claro de enxergar múltiplos caminhos que cada um pode percorrer buscando sua realização pessoal de maneira alinhada ao todo. Da mesma maneira abre-se um leque de soluções para a continuidade dos negócios familiares, fundações e “N” iniciativas da família.
Desenvolver uma carreira artística; abrir uma startup; fundar um centro de inovação dentro da empresa familiar; construir uma carreira executiva; se dedicar aos investimentos líquidos, aos imóveis, às fazendas; estruturar ou participar do Family Office; construir uma carteira de investimentos de impacto ou um projeto de filantropia – e, qualquer iniciativa alinhada com os objetivos familiares – passa a ser uma opção para o integrante da família que irá escolher o caminho o qual poderá ser protagonista e assim se realizar como pessoa e como profissional.
Pensar com uma visão ampla do seu patrimônio entendendo que seus ativos – sejam empresas, fundos de investimentos, participações, imóveis etc. – no final das contas, estão trabalhando para os objetivos da família, é pensar como uma Família Investidora. Adotar a governança familiar e pensar na longevidade da família em harmonia, de maneira alinhada e apostando numa diversificação das iniciativas e empreendimentos familiares, é investir em um modelo sustentável de continuidade.
Sendo assim, construir e manter um ambiente fértil para o desenvolvimento dos talentos, para a realização pessoal e consequentemente para a felicidade dos membros familiares, passa a ser o grande desafio para os líderes deste contexto. À nova geração, cabe reconhecer a trajetória familiar, respeitá-la, aprender com ela e refletir sobre o que será levado a diante – o legado herdado e o legado a ser transmitido.
Por Marcelo Geyer Ehlers, Consultor parceiro do Instituto Sucessor.