Em um cenário atual, onde as mulheres precisaram ser multitarefas para suprir as demandas de trabalho, filhos e vida pessoal, se torna necessário debater sobre esse papel feminino na nova realidade. Por isso, completando a série de webinários do mês de maio, período que dedicamos a conversar com essas mulheres, apresentamos o tema Governança Familiar com convidadas inseridas diretamente em cargos na governança para empresas familiares.
Magda Geyer Ehlers conversa sobre o “novo conselho de administração” com Jamile Goellner, da empresa Girassol Agrícola, e Letícia Reichert, do Grupo FCC. Além da apresentação dos casos dessas empresas, contamos também com a participação de Michelle Squeff, especialista em governança corporativa e coordenadora geral do IBGC/RS.
Entendemos que o Conselho Consultivo, ou Conselho de Administração, exerce um papel de extrema importância como órgão de gestão de empresas. Há pouco tempo, considerava-se restrita a participação de mulheres nesse órgão, mas, hoje em dia, essa imagem tende a mudar cada vez mais. Esse movimento faz com que esses conselhos se adaptem às linhas de conduta mais modernas, onde não se faz distinção de gênero para cargos de gestão e tomadas de decisão.
Conselho Consultivo em transformação
Com o passar dos anos, a participação de especialistas e líderes capacitados nos Conselhos Consultivos se torna cada vez maior, trazendo uma grande relevância para esse órgão. Nesse sentido, entidades como o IBGC passam a oferecer formação para conselheiros, trazendo à tona a discussão em torno da missão dos conselhos.
Esse cenário traz a visão de um novo conselho, onde se torna necessária a participação de pessoas formadas para o cargo, sendo mulheres e homens inseridos em funções de gestão e com perfil específico para atender as demandas do órgão e da empresa em questão.
Letícia Reichert é advogada, sucessora e herdeira do Grupo FCC da cidade de Campo Bom/RS. Sendo hoje conselheira da empresa da família, além de executiva do Family Office, ela considera que os conselhos estão mais próximos da gestão e interagindo mais no dia a dia das empresas. Segundo Letícia, o órgão deve se adaptar na medida que o mundo evolui. Atualmente, mais do que ter uma vasta experiência executiva, o conselheiro agora possui outras características, compreendendo um olhar de responsabilidade corporativa – ação muito importante em tempos de crise econômica e social.
A conselheira comenta que o órgão costumava ser homogêneo, com profissionais da mesma faixa etária, mesma formação e pensamentos muito semelhantes. Hoje em dia, há uma abertura maior para o trabalho do setor, pluralidade de experiência e vivências dos profissionais, assim como, uma redução do distanciamento da gestão da empresa.
Jamile Goellner é herdeira e conselheira da empresa familiar Girassol Agrícola, sediada no estado do Mato Grosso. Ela comenta que, atuando em uma empresa ligada ao setor de Agrobusiness, essa homogeneidade do Conselho Consultivo era ainda mais evidente. Mesmo assim, Jamile ressalta que sua atuação de mais de 17 anos na empresa nunca foi prejudicada pelo fato de ser mulher.
Nesse contexto de mudanças e atualizações, considera-se uma multipossibilidade para o sucessor seguir carreira dentro de uma empresa familiar. O crescimento profissional do herdeiro passa a ser mais amplo, sendo que o conselho pode servir como um órgão de treinamento para esse sucessor, onde ele acaba por conhecer realmente o negócio da família para, no futuro, assumir cargos de alta gestão.
Letícia Reichert comenta que, mesmo considerando o conselho como um órgão que auxilia o sucessor no conhecimento da empresa, o profissional deve já ter uma certa capacitação e trajetória profissional antes de integrar o setor. No Conselho de Administração, ela comenta que é possível se ter uma visão da empresa como um todo, pensando também nos planos estratégicos futuros da organização.
Nessa mesma lógica, Jamile Goellner destaca que sua participação no conselho foi uma proposta para aproximar a segunda geração da administração do negócio, mesmo que sua atuação na empresa já tenha uma longa trajetória de experiência profissional.
As modernizações nas práticas do Conselho Consultivo passam também por aceitar um conselheiro independente como presidente do órgão, fato que nas empresas familiares ainda tem uma certa dificuldade. Para as conselheiras Letícia e Jamile, a experiência do profissional independente traz uma melhor metodologia e ritmo para as reuniões, sendo muito benéfico na dinâmica do órgão.
Michelle Squeff, advogada e coordenadora do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa) Capítulo Sul, com grande experiência no setor de governança de empresas, comenta que há um crescimento de mulheres em cargos de Governança Corporativa de um modo geral, não apenas em conselhos, mas principalmente, com entrada a partir da Secretaria de Governança. A coordenadora ainda ressalta que o novo conselheiro tem um perfil mais capacitado como profissional, contanto com diferentes formações e vivências dentro ou fora da empresa.