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A concepção de vínculos e limites nas relações familiares

By 27/10/2020 outubro 29th, 2020 No Comments
relações familiares

A psicologia sistêmica da atualidade entende a família como um sistema composto por pessoas unidas, conectadas pelo afeto, noção de pertencimento e que se interdependem, ou seja, uma influencia e é influenciada pelo outra. É certo identificar, portanto, esse sistema como o primeiro círculo que estamos inseridos – os primeiros vínculos surgem ali.

Segundo a psicóloga Márcia Pozzobon, o conceito de vínculo tem a ver com a conexão entre pessoas, baseando-se na experiência emocional. Por que lembramos de certas coisas ou pessoas com mais afeto? O motivo está nessa experiência afetiva que estabelece o nível de conexão entre as duas partes e o quanto essa relação pode mover o indivíduo em direção ao seu crescimento ou pode paralisá-lo. Dessa forma, por ser o primeiro vínculo, a família, independente da sua configuração, se torna um grande laboratório de relacionamentos, onde o indivíduo aprende a se conectar com as mais diversas figuras e situações e a observar a forma com que os adultos se relacionam, o que irá determinar grande parte da sua personalidade e das relações futuras.

Márcia explica que, nesse contexto, é importante considerar que os afetos nem sempre são positivos o que acaba impactando na forma de vinculação. Quando pensamos em vínculo, temos a tendência a pensar em afeto amoroso e proximidade, mas existem os mais diversos tipos de relação. Famílias com pais pouco individuados acabam tendo dificuldades para estabelecer vínculos emocionais maduros e podem atrapalhar o desenvolvimento dos filhos.

Este padrão de interação é passado entre as gerações, ou seja, os pais vão passar para frente aquilo que receberam. Como as famílias têm uma tendência de busca pelo equilíbrio, segundo a especialista, se estabelecerá um padrão de vinculação até que haja o contato com o diferente, que mexa com a estrutura familiar, dando a possibilidade da família aprender a ser resiliente.

Vínculos e limites são dimensões que costumam andar juntas no desenvolvimento individual e da família. Quando se fala em limites nas relações familiares, é preciso entender que cabe aos adultos (pais) estabelecerem as diferenças entre o que a criança quer e o que ela precisa. Cabe a este subsistema parental assumir seus papeis e responsabilidades e clarear essas fronteiras necessárias entre eles, os filhos e avós.

A invasão e a desconfiguração desses limites são, muitas vezes, causadoras de conflito, na medida que os membros não atendem aos papeis e responsabilidades que lhes cabe.

Os limites oferecem proteção no desenvolvimento dos filhos e acabam por se mostrar um grande norteador de valores e princípios daqueles indivíduos.  Já a falta de clareza deles, pode gerar uma família “emaranhada”, onde as individualidades de cada membro não florescem. Essas divisões são muito estruturantes, principalmente o limite do que é do indivíduo e o que é do outro, conforme explica Márcia, o que auxilia no processo da individuação e na funcionalidade da família.

A psicóloga, que é terapeuta de família, ressalta a qualidade da comunicação como um elemento fundamental nas relações interpessoais. Quanto mais claro são os limites, maior a transparência na relação e mais forte e leve é o vínculo. “O limite fortalece o vínculo”, diz a especialista.

Considerando o contexto das famílias empresárias, os vínculos e limites precisam ser trabalhados, já que as relações familiares, nesses casos, ultrapassam o pessoal e partem para o nível profissional. Quando se tem uma organização em jogo, o ideal seria que houvesse uma divisão entre os assuntos de família e os assuntos de empresa mas, na prática, isso nem sempre acontece.

Muito dos valores transmitidos pelos limites da criação dos filhos se mostra aparente também no ambiente empresarial. A estrutura da família está presente no contexto do negócio, segundo Márcia, e, mais uma vez, a qualidade da comunicação, das relações de afeto e da capacidade do indivíduo ser diferenciado da família, é o que o tornará subjetivo, criativo e, assim, mais desenvolvido, podendo agregar mais ao negócio.

Márcia Pozzobon é psicóloga, especialista em Psicologia Organizacional, Terapia Sistêmica Familiar e Aconselhamento de Carreira, além de possuir formações internacionais em Coaching e Mentoring. Tem experiência de mais de 30 anos nas áreas de desenvolvimento humano e gestão de pessoas, atuando como executiva em empresas nacionais e multinacionais, como Claro, Effem Brasil – Mars Inc e Ambev e também como, Sócia-diretora da MAIS Desenvolvimento Humano e Organizacional.  É Consultora de empresas familiares e famílias empresárias no Instituto Sucessor e psicoterapeuta especializada no atendimento individual, de famílias e casais. Membro do SYS -Terapia Sistêmica do CEFI e sócia Fundadora do ICF- International Coach Federation – Capítulo RS.

Ela estará presente no 12º Painel oferecendo reflexões e conceitos, na visão sistêmica, sobre as relações familiares no estabelecimento dos vínculos e limites.

O Painel 2020 acontece no dia 18 de novembro, às 9h. Participe do evento! Inscreva-se aqui.