Governança e Família EmpresáriaXestaques

A Governança Familiar nos cenários do Brasil e da Europa

governança familiar

O IS Conversas – série de webinários do Instituto Sucessor – entra no seu segundo mês com o tema Governança Familiar.

Durante o mês, conversamos sobre esse assunto de expertise da nossa consultoria, abordando a família empresária no âmbito da governança e sucessão, conhecendo cenários diversos desse contexto e debatendo com especialistas e com a nova geração.

Para iniciar essa rodada de webinários, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais do processo da Governança Familiar na Europa, mais especificamente nos países Portugal e Espanha, conversando com dois consultores de grande experiência no setor nesses dois locais.

Magda Geyer Ehlers e João Prates, do Instituto Sucessor, receberam virtualmente Manuel Pavon, do Instituto Nexia de Barcelona/Espanha, e António Nogueira da Costa, da EF Consulting de Porto/Portugal.

Não se pode deixar de destacar que uma das principais diferenças das famílias empresárias no Brasil e na Europa é a longevidade. Enquanto aqui temos famílias que repassam suas empresas para terceiros logo nas gerações iniciais, por lá, é possível conhecer estruturas familiares que estão há séculos sob domínio da mesma família, sem serem vendidas e com vínculos extremamente fortes.

Segundo Manuel Pavon, consultor e assessor independente de empresas familiares há mais de 25 anos, a longevidade se dá ao fato de um trabalho fundamentado em valores e na marca familiar. Desempenha-se junto com as famílias empresárias o conceito de capital familiar que, para além do dinheiro, passa pela riqueza socioemocional, com atenção especial às próximas gerações e adaptação constante dos sistemas às mudanças da sociedade.

Mesmo assim, tanto Manuel, quanto António Costa, consultor de empresas familiares de Portugal, destacam que, cada vez mais, é possível perceber empresas centenárias que já não são mais governadas pela família fundadora original – que foi vendida ou é gerida por um núcleo específico da família, que se divide em vários ramos. É difícil encontrar, nos dias atuais, empresas que ainda estão nas mãos de toda a família com um sistema único.

No Brasil, podemos perceber que em um certo momento, as empresas passam a dividir capital, uma parte comprando de outra, o que faz com que permaneça apenas os membros que realmente têm o interesse no negócio familiar. Esse fato mostra a grande importância da Governança Familiar trabalhar a marca e os valores da família.

Manuel Pavon destaca que os profissionais que trabalham em empresas familiares, muitas vezes, ao se direcionar para ações de conselhos de administração e governança corporativa, acabam por não dar a devida atenção aos órgãos familiares – que são os que sustentam as gerações na gestão da empresa. A Governança Familiar por meio do Conselho de Família, portanto, é o que sustenta os valores da família empresária. Esse conselho, segundo Pavon, é o que cultiva a marca da família em um trabalho constante e permanente, que pretende sustentar o interesse dos membros da família nos negócios.

António Costa ressalta o papel do Conselho de Família como o guardião da continuidade dos valores e do legado, além de ser o responsável pela formação da família empresária e o ponto de ligação da família com a empresa. Ele destaca, ainda, a necessidade da profissionalização dessa família empresária, institucionalizando a sua existência no sentido de regular a influência nos negócios.

Nesse sentido, Magda comenta sobre a constituição de comitês como uma prática da Governança Familiar aqui no Brasil. Sobre esse tema, António Costa destaca que em Portugal essa questão depende do tamanho da família, salientando que a governança, nos casos de famílias menores, fica muito em torno das discussões do Conselho de Família. Já quando se trata de grupos familiares de maior número, assim como no Brasil, dá-se a importância de comitês pensando, geralmente, nas novas gerações ou nos membros não-consanguíneos.

Manuel, da Espanha, comenta também sobre a real quantidade e necessidade de comitês, principalmente, em famílias menores. Ele destaca a importância de se estudar cada caso, personalizando os órgãos de governança conforme a dimensão da família e da empresa.

O Conselho de Família na realidade brasileira é composto por representantes de cada “ramo familiar”, ou seja, integrantes de diversas gerações e vivências diferentes, de modo que se haja integração e resgate da história da família. Na construção da pauta de reuniões mensais, valoriza-se uma pauta fixa e uma eletiva do mês, seguido do relato dos comitês (quando existentes). Já na realidade retratada por António e Manuel, considerando uma grande maioria de famílias pequenas, as reuniões de conselho passam a ser necessárias de forma trimestral.

Manuel Pavon destaca, ainda, a importância dessas reuniões passarem do âmbito profissional e considerarem o emocional dos membros. Inicia-se com o interesse no bem-estar desses componentes, pensando no Conselho de Família como um lugar de reflexão e trocas.

A Governança Familiar, portanto, se mostra, em qualquer cenário, um fator de extrema necessidade para a continuidade do legado, consideração dos valores e da marca da família e para o desenvolvimento das novas gerações.