Desenvolvimento

A educação financeira para a família empresária

educação financeira

No Brasil, não há prática da inserção da educação financeira entre os temas base para alunos em anos iniciais nas escolas e, até mesmo, nas famílias. Essa pode ser considerada uma das principais lacunas na formação do brasileiro.

Com a falta de uma cultura de educação financeira, a maneira como as famílias buscam preparar seus filhos para lidar com o dinheiro acaba sendo “caseira” – cada família com o seu conjunto de crenças. No caso de famílias empresárias, essa aprendizagem é de extrema importância, pois a necessidade vai além das finanças pessoais de cada indivíduo. Mais cedo ou mais tarde, os herdeiros serão acionistas de um grupo empresarial ou sócios de um patrimônio importante, o que aumenta a sua responsabilidade pelas consequências que um despreparo poderia ter.

Algumas famílias utilizam da mentalidade da escassez para destacar o valor do dinheiro para os mais novos. Limitar o acesso aos rendimentos da família e induzir o herdeiro ao trabalho pode ser extremamente vantajoso, mas em excesso, pode prejudicá-lo no futuro. No curso da sua formação com uma ampla escassez de recursos, ele poderá fazer escolhas que lhe tragam mais retorno financeiro no curto prazo, mas que podem prejudicar seu desenvolvimento de maneira mais ampla. Após uma longa vivência sem o hábito de fazer escolhas com o dinheiro, ao participar de um Conselho ou ao herdar parte da riqueza familiar, o jovem estará totalmente despreparado para assumir seu papel com responsabilidade.

Ao contrário, o excesso de dinheiro em fácil acesso desde o início da vida, pode fazer com que o jovem cresça em uma “bolha”, com uma leitura distorcida da realidade e sem reconhecer o valor do trabalho. Nesses casos também é o comum o herdeiro perder a noção da finitude e do risco de deteriorar o patrimônio familiar em poucos anos, por maior que seja, perder a noção de sustentabilidade do patrimônio da família, da grandeza das despesas e receitas – o que pode ser muito perigoso para o membro familiar de qualquer idade.

O equilíbrio para essa educação nas famílias pode começar pelo conhecimento, desde cedo, do valor das coisas e observar o que acontece ao seu redor em termos de economia.  Ter noção de quanto custa produtos e serviços básicos, ter conversas sobre o trabalho e de onde vem o dinheiro da família, além de chamar a atenção sobre momentos econômicos mais ou menos favoráveis, podem ser passos iniciais para aprender a lidar com o dinheiro de forma mais consciente e inteligente.

A ideia é que o aprendizado seja convertido em atitudes, participação de todos e comportamento prático, já que a educação financeira leva à qualificação das tomadas de decisão.

As diferentes gerações têm diferentes relações com consumo e com dinheiro. Segundo a obra Raising Financially Fit Kids, de Joline Godfrey, cada etapa dos anos iniciais de um indivíduo possui distintas características de desenvolvimento social e emocional, distintas habilidades financeiras a ser trabalhadas, além de diferentes desafios e atividades a serem propostas.

Em um primeiro estágio, entre 5 e 8 anos, pode-se utilizar da curiosidade da criança para a apresentação de moedas e notas, conversas sobre o valor do dinheiro, além de já iniciar a falar sobre a diferença entre querer e precisar. Já entre os 9 e 12 anos, já é possível inserir um estímulo ao espírito empreendedor e ensinar sobre custo e merecimento do dinheiro. Já em uma fase de adolescência, segundo a autora, a criança deve ser capaz de comprar de forma consciente, comparar preços, começar a ganhar e administrar seu próprio dinheiro, ser estimulada aos temas sobre economia e investimento e fazer planos para o futuro.

A chamada Geração Z (nascidos após o ano 2000) é composta por jovens que mudam rápido de opinião, seja em relação aos gostos pessoais ou aos hábitos de consumo. Esse imediatismo sendo somado ao desconhecimento pode ser determinante na formação de adultos sem consciência financeira. É por isso que iniciativas dessa educação e o estímulo ao trabalho para criar sua independência financeira cumprem um papel fundamental. Busca-se que essa geração não comprometa a sua segurança financeira e estabilidade do patrimônio da família.

Já na vida adulta, quando o contato com os números já é uma necessidade maior, o desafio é ter consciência e noção completa sobre rendimentos e gastos – que devem ser compatíveis. A disciplina vem de um contínuo exercício de análise, tendo em vista o contexto atual e a inflação.

Esse balanço dos gastos e rendimentos permite a sustentabilidade do patrimônio, fazendo com que as próximas gerações mantenham ou aumentem os investimentos da família empresária, continuando ou aumentando o poder de compra ao longo do tempo.