Regenerar é quando conseguimos, dentro de um mesmo espaço, melhorar a qualidade do ambiente tornando-o capaz de trazer ainda mais frutos. A produção e o crescimento é uma via de mão dupla, onde para colher é preciso mais do que semear, é preciso cuidar do solo, alimentar esse ambiente para que ele tenha força e vitalidade para entregar mais. Quando entendemos e nos reconectamos com o funcionamento natural das coisas, nasce uma relação mais saudável e de mútuo benefício – tanto no sentido literal quanto figurado.
Na agricultura é assim que tem funcionado, produtores aumentando sua produtividade e resultados a partir de um cuidado com o solo, zelando pela sua saúde e vida. Aumentar a variedade de seres vivos, cria um ecossistema mais equilibrado. Respeitar a vocação natural daquele solo na história, possibilita entender como ele pode se beneficiar de uma transformação. Proteger as raízes e a terra, não expondo-as às intempéries do tempo, resguarda no solo a matéria orgânica, os nutrientes, a vida e o que hoje é tão falado, o carbono. Muitas vezes, ao desbravar um território e iniciar uma atividade de agricultura, o ambiente é degenerado e perde sua fertilidade ao longo do tempo. Para se ter uma atividade sustentável, é preciso manter [ou devolver] o equilíbrio deste ecossistema e praticar uma agricultura regenerativa.
Cultura Regenerativa – Ambiente fértil para a continuidade
A família que empreende e investe junto tem um desafio parecido. É possível estabelecer novos ciclos de continuidade e reinvenção quando se tem a capacidade de regenerar. Para isso, é preciso saber se beneficiar das diferenças entre as pessoas e a variedade de pensamento. Entender a essência do que trouxe a família até aqui e refleti-la nos [novos] valores compartilhados para o futuro. Algumas vezes a criação de um negócio do zero degrada as relações familiares e torna a vontade de ficar junto frágil. Relações pessoais precisam ser cultivadas e bem cuidadas para que durem por gerações.
O desafio é abrangente também ao ambiente do negócio, onde muitas vezes sua natureza, desde a fundação, está apoiada em uma prática degenerativa – seja ambiental, social, na tratativa com as pessoas ou questões éticas e de governança – aspectos que hoje o mercado e a sociedade já não aceitam mais. Mais do que isso, as empresas são desafiadas a se reinventar e inovar todos os dias para se manterem relevantes e se tornarem viáveis no longo prazo. Então, outros ingredientes também se mostram fundamentais como: a capacidade de se reinventar; ter uma relação de confiança e harmonia entre as pessoas; a liberdade para se ter ideias e colocá-las em prática – inovar; a coragem para lidar com o desconforto, e uma ampla capacidade de aprender e empreender.
Por fim, na gestão do patrimônio familiar também existem diferenciais importantes para a continuidade. Investimentos que visam somente o retorno financeiro, acabam sendo especulativos ou de curto prazo. As Famílias Investidoras têm um horizonte de tempo de gerações e ao fazer uma gestão de riscos de longo prazo, a pauta ESG (ambiental, social e governança) ganha força. Cada vez mais Family offices vem adotando o ESG seja como política de gestão de riscos ou, quando a família se identifica mais profundamente, como norte da sua Política de Investimentos. O próprio desenvolvimento do mercado financeiro para o viés do ESG é uma demonstração de que este ambiente está se regenerando por consequência da mudança da sociedade, das empresas e dos investidores.
Tudo isso só é possível se as características fundamentais para tornar um ambiente fértil para a continuidade estiverem presentes na cultura – Tanto na cultura das famílias empresárias e investidoras, quanto das empresas. Assim, Cultura Regenerativa passa a existir tornando o ambiente fértil para a continuidade.
Por Marcelo Geyer Ehlers
Créditos: Esta abordagem da Cultura Regenerativa foi desenvolvida durante a construção do 13º Painel do Instituto Sucessor, realizado no dia 17 de novembro de 2021, cujo tema foi “Cultura regenerativa, um ambiente fértil para a continuidade”. Contribuíram nas discussões a equipe do Instituto Sucessor e os convidados do painel Felipe Russo, Nicolas Skowronsky, Celso kiperman, Paulo Amorim, Pedro Valério e Daniel Ely.
Clique abaixo e assista os vídeos dos convidados Pedro Valério, do Instituto Caldeira, e Daniel Ely, das Empresas Randon.
A colaboração e a confiança como pontos essenciais da Cultura Regenerativa
Atenção às pessoas, às novas gerações e aos novos líderes na Cultura Regenerativa