Famílias investidoras e famílias empresárias, ao iniciar a profissionalização da gestão dos seus negócios e a implantação de práticas de governança, invariavelmente refletem sobre ter um Family Office. Family Office é para mim? A minha família pode ter um Family Office multigeracional? Será que tenho patrimônio suficiente? Custará muito caro? Estas são as perguntas mais frequentes.
Fazendo as análises necessárias, muitas vezes conclui-se que sim, um Family Office multigeracional pode agregar valor para tal família. Diferentes razões levam as famílias a optarem por estruturarem seu Family Office (FO), todas elas legítimas. No entanto, com o amadurecimento desta família como investidora, a reflexão mais importante é sobre o papel do FO junto à família no longo prazo.
Nos casos de famílias que possuem empresas é muito comum no processo de implantação de governança corporativa que a família seja orientada a separar os assuntos familiares dos empresariais. Contas pessoais, pagamentos e contratação de funcionários domésticos, planejamento de férias, imposto de renda dos membros familiares, gestão de seguros, contratos e documentos pessoais, entre outros assuntos comumente gerenciados por funcionários da empresa, passam a ser tratados fora do negócio. Daí tipicamente surge o Family Office Administrativo e Concierge.
A implantação da governança corporativa em empresas familiares provoca ainda mais discussões. No âmbito societário, discute-se a sucessão patrimonial, a estrutura jurídica que compõe a propriedade e sociedade na empresa e a proteção destes ativos em casos de problemas judiciais envolvendo os sócios ou a empresa; no contexto da gestão no negócio, desenha-se o modelo de sucessão, o papel do conselho consultivo/administração e combina-se, com a governança familiar, a relação da família com tal empresa. No Brasil, todo este trabalho geralmente é liderado por um membro da família e conduzido com a ajuda de uma consultoria. Em outros lugares do mundo onde a cultura do FO está mais consolidada, este trabalho é o motivo para criação do típico Family Office de Fundador, onde as decisões são centralizadas no patriarca e com foco na gestão dos assuntos envolvendo a empresa da família.
Outras famílias que não necessariamente possuem uma empresa mas que já acumularam um capital financeiro significativo e possuem uma estrutura familiar mais complexa, preocupam-se tipicamente com suas declarações de imposto de renda, controle orçamentário, gestão de passivos de empresas ou bens antigos, monitoramento de ações judiciais antigas e controle dos ativos que compõem seu patrimônio. Com diversos membros familiares que não atuam nos negócios e/ou não participam dos investimentos, é demandada certa transparência e controle das informações. Com este perfil, a motivação leva a criar um Family Office de Compliance e Controles.
Por fim, o arquétipo mais comum e conhecido quando se pensa em FO no Brasil é o Family Office de Investimentos. Tipicamente é estruturado quando uma família passa por um processo de liquidez de um de seus negócios, gerando um capital financeiro substancial, ou quando a empresa familiar tem uma capacidade de geração de caixa importante e consistente ao longo do tempo, possibilitando um grande acúmulo por parte da família. O FO de Investimentos é então criado para fazer a gestão dos ativos financeiros.
O fato motivador que tira a família do status quo fazendo com que ela tome uma iniciativa é fundamental. No entanto, o FO tem potencial para ser muito mais do que uma estrutura rotulada por um dos arquétipos descritos anteriormente.
Na figura ao lado estão ilustrados os arquétipos do FO conforme sua sofisticação e maturidade. Um FO de Fundador que acumula também as características de um FO Administrativo e de Concierge tende a ser mais sofisticado, e assim por diante. Se o FO for estruturado de maneira sustentável, com um visão de longo prazo e com Governança Familiar e Patrimonial sólidas sustentando a estrutura, o FO será um forte candidato a viver por muitas gerações.
Como conceituado no livro A Família Investidora e o Family Office, o Family Office é a estrutura que dá apoio à família investidora na busca de seus objetivos de maneira alinhada e sustentável. Para se tornar uma estrutura robusta, o patrimônio familiar precisa ter um propósito e a família deve vê-lo de maneira ampla: considerando também o capital humano, intelectual, social, familiar e financeiro. Com objetivos claros tendo em vista os cinco capitais e fazendo-se refletir os valores familiares na Governança Patrimonial, o Family Office pode durar por inúmeras gerações. Neste caminho, o FO pode se encaixar nos diferentes arquétipos e a prestação de serviços que estará no seu escopo irá depender dos objetivos da família. Cada família é única, assim como cada Family Office. O mais importante é que, independente do modelo inicial, a família dê o primeiro passo e veja o processo como uma contínua evolução de sofisticação e maturidade, sempre com uma estrutura adequadamente dimensionada e eficiente.
Artigo publicado originalmente no site na INEO – Centro de expertise em Single Family Office.
Por Marcelo Geyer Ehlers, consultor parceiro do Instituto Sucessor. Cofundador da INEO.