Governança e Família EmpresáriaXestaques

O Comitê de Crise como uma prática de Governança para ajudar na recuperação de empresas familiares

Comitê de crise

A nova realidade vivida nesse início de 2020 trouxe grandes preocupações para o mundo corporativo. A crise vai além do âmbito econômico, atingindo também questões relativas às mudanças que a pandemia do novo coronavírus está provocando na sociedade.

Hábitos de trabalho foram modificados de forma repentina, assim como, as relações familiares também foram afetadas.

Nesse contexto, é de extrema importância discutirmos ações para que famílias empresárias consigam superar os impactos que esse novo cenário está trazendo. E, para isso, uma governança corporativa e familiar bem estruturadas podem oferecer facilidades na gestão dos negócios durante e pós crise.

Com mais de 30 anos de experiência em transformação de negócios, tendo atuado como CEO interino, consultor e coach executivo sênior para mais de 75 empresas no Brasil e exterior e, mais recentemente, atuando como membro de Conselhos Consultivos e de Administração em empresas familiares, Richard Doern nos auxilia a entender um pouco melhor o momento atual e o que há por vir para as famílias empresarias.

Mesmo tendo experiência em diversas situações de crise, Doern destaca que o cenário gerado pela pandemia é de extrema complexidade, exigindo conhecimentos de profissionais de alto nível de especialização, tanto no sentido econômico, quanto de gestão.

Percebe-se, no momento, uma grande dificuldade por parte das empresas familiares em saber o que fazer, como dar o primeiro passo e a quem recorrer para superar os impactos e não entrar em situações ainda mais extremas.

É essencial que os empresários e as famílias entendam o real tamanho da crise, sempre com base em informações claras e consistentes, pois decisões muito duras terão que ser tomadas, a cada dia, cada qual tendo repercussões e riscos que precisam ser muito bem estudados.

Com relação à empresa, segundo Doern, o destaque fica na Governança Corporativa, através dos comitês. Esses órgãos são de extrema importância para ajudar as empresas a se enfrentarem a crise de forma mais cautelosa e diligente.

A principal recomendação do especialista é a criação de um Comitê de Crise, como órgão de apoio ao Conselho da empresa.

Esse Comitê de assessoramento deve ser composto por pessoas de alto nível profissional, com grande experiência em gerenciamento de crises, capacidade de tomar decisões importantes e difíceis de forma fria e precisa. É muito importante ressaltar a necessidade de se contar com pessoas de fora, ou seja, que não tenham ligações emocionais com a empresa e tenham experiência relevante em situações complexas.

A tarefa desse órgão é montar um plano de ação efetivo, com base num fluxo financeiro projetado (caixa) para os próximos 12 – 18 meses, dependendo do caso, e pensando, num primeiro momento, apenas na sobrevivência do negócio, no curto prazo. Partindo do fato de que não se sabe quando o cenário vai voltar à normalidade, as premissas devem ser drásticas, para que a empresa sobreviva a esse primeiro semestre com saúde financeira suficiente para uma possível retomada no segundo semestre.

Com relação à área financeira, outra recomendação importante é que o Comitê de Crise conte com um profissional especialista do setor – um conselheiro financeiro. Segundo Doern, a crise COVID-19 vai prejudicar fortemente a liquidez e o custo do capital vai aumentar muito. O momento é de preservação de caixa, pensando que uma Gestão de Crise tem duas vertentes: Redução de Gastos (custos, despesas, investimentos etc.) e; Aumento (manutenção) de receitas – que se torna mais complicado neste momento em que a população está em isolamento em suas residências.

Doern destaca que decisões muito difíceis deverão ser tomadas. Ele sugere que este Comitê se reúna diariamente para discutir o cenário que a cada 24 horas muda drasticamente, pensando em todos as dimensões impactadas pela crise e recomendando ao Conselho de Administração quais decisões tem que ser tomadas e os riscos envolvidos. Vale destacar que o Comitê de Crise não toma decisões, mas sim orienta o Conselho para que sejam tomadas as melhores medidas no tempo correto.

Além da discussão sobre a recuperação no aspecto da empresa, Doern também destaca que na família, a principal questão é a união dos membros. Esse momento de crise pede todos, das diversas gerações, estejam unidos, coesos e cientes da situação, sem priorizar interesses pessoais e pensando sempre na perpetuação do negócio como um todo.

Richard Doern é especialista em recuperação operacional de empresas, tendo atuado durante 20 anos como turnarounder. Nos últimos 15 anos, tem atuado como membro de Conselhos de empresas familiares.