Histórias de sonho, trabalho e propósito
Após as palestras de abertura do 10º Painel de Famílias Empresárias, promovido pelo Instituto Sucessor, o segundo momento do evento deu voz aos protagonistas de histórias familiares de muito trabalho e realizações.
Em suas falas, os participantes refletiram sobre a trajetória das gerações anteriores, a preservação do legado, o propósito e a continuidade. É com as palavras deles, portanto, que recuperamos os pontos principais de cada relato.
Aline Eggers Bagatini
Diretora Administrativa e de RH da Bebidas Fruki S.A. e integrante da quarta geração da família.
“A história da Fruki é de muito amor por uma empresa. Começa com o meu bisavô, Emílio Kirst, que foi um empreendedor e tentou várias profissões: foi agricultor, construiu pontes no interior do Vale do Taquari, até que fez um tratamento de cura pela água e achou que estava preparado para ser médico. Então, construiu um prédio, no qual atendia pacientes. Em 1924, ele encontrou um livro sobre o processo cervejeiro. E resolveu transformar o hospital em uma cervejaria, no interior de Arroio do Meio, junto com os três filhos homens.
Durante anos, o negócio praticamente não cresceu. O meu avô, de sobrenome Eggers, que casou com uma das filhas do Emílio, foi trabalhar na empresa. E, em 1959, quando meu pai estava em Porto Alegre, estudando, ele o chamou para assumir a Fruki. Já existia algo que o conectava à empresa, porque ele acreditou e sempre foi muito dedicado ao trabalho, apaixonado pelo que fazia.
Em 1971, a sede foi transferida para Lajeado, cresceu e hoje é reconhecida e admirada por muitos, o que nos enche de orgulho. Fazemos tudo bem-feito, em relação aos consumidores, aos nossos profissionais, à comunidade, ao governo, ao meio ambiente.
E eu, que sempre fui encantada pela Fruki, apesar de ter desenvolvido uma carreira em outra organização, aceitei rapidamente o convite que o meu pai me fez para estar à frente do negócio. Acredito que poder construir um legado é o que faz diferença na nossa vida. Temos um compromisso muito forte com esse sonho.”
Eduardo Logemann
Presidente do Grupo SLC e membro da terceira geração da família.
“O meu avô, Frederico Jorge Logemann, veio para o Brasil em meados de 1900, contratado por uma empresa que construía estradas de ferro e pontes. Voltou à Alemanha para servir na Primeira Guerra Mundial e, na primeira batalha, o navio em que ele estava afundou. Foi preso no Canadá, conseguiu fugir e retornou para o Brasil.
Aqui, casou e teve um filho, Jorge Logemann. Começou a trabalhar para o governo do Estado e recebeu um pedaço de terra em Horizontina, que era puro mato. Foi para lá na década de 1920 e, em 1945, fundou a empresa chamada Schneider Logemann, hoje SLC, que permanece sob controle da família Logemann.
Meu avô teve um período muito curto na empresa, devido a um problema no coração. Então, chamou o meu pai, que estudava em Porto Alegre e estava prestes a se casar com a minha mãe, para tocar o negócio. Eles adoraram Horizontina e criaram uma paixão pelo negócio e pela cidade, da qual foi o primeiro prefeito. E o que antes era uma serraria, um moinho de trigo e milho, uma pequena oficina para consertar utensílios agrícolas, virou uma fábrica. Em 1965, a SLC produziu a primeira colheitadeira automotriz do Brasil.
Naquele núcleo, a minha família cresceu, somos em cinco irmãos. E a empresa se solidificou, criando uma cultura pautada na ética, na qualidade, no respeito ao indivíduo e ao meio ambiente. Refletindo sobre o propósito da nossa família, acredito que perenidade, união e confiança irrestrita são a essência que nos trouxe até aqui.”
Gladis Killing
Conselheira de Administração Familiar da Tintas Killing e pertencente à segunda geração da família
“Meus oito irmãos e eu somos filhos do Celestino, fundador da Killing, que começou como uma extensão da nossa casa. Meu pai era pintor de placas de propaganda, caminhões, ônibus e fachadas de lojas. Até que um amigo ofereceu para que ele comprasse uma fábrica de tintas, que nada mais era do que três ou quatro equipamentos, um livro escrito a mão de formulários de tintas e um funcionário. Ele aceitou e, junto com o atelier de placas, tinha um cantinho onde mexia com as tintas. Meu pai produzia, inicialmente, uma tinta para retoque de calçados.
Era tudo muito misturado com a nossa casa. De vez em quando, sumia algo da cozinha da minha mãe que se transformava em um equipamento da empresa. Os funcionários com frequência almoçavam conosco, não existia uma diferenciação. Nós podíamos ajudar, ver o pai pintar. Era tudo muito familiar.
A década de 1970 foi a transformação de um pequeno atelier em uma fábrica nova, com a diversidade de produtos que a Killing trabalha hoje. Em 2000, montamos nosso processo de Governança e tivemos a felicidade de o pai e a mãe passarem a Killing para o nosso nome em vida. Foi um processo muito amigável, muito tranquilo.
O pai, para nós, sempre foi a pessoa de visão para o mundo, que quis mudar, buscar outros negócios. E nos ensinou e pensar nos outros, olhar para as pessoas. A mãe, a Hertha, nos ensinou que a união faz a força. Esse é um propósito de família muito forte, que está enraizado e vem de uma construção ao longo da nossa vida.”